Fuel, tires... Desire!!!
“Dê-me fogo, me dê pneus e tudo mais que eu desejo para ser feliz em paz. Não preciso de muita coisa para ser feliz. Talvez um pouco mais de combustível para queimar pneus por mais dez quilômetros, fazendo da fumaça dos pneus subirem para que eu possa tragar um pouco daquele doce aroma que emana do asfalto. Não peço mais nada...”
Sim, esta matéria foi escrita ao som de muito Rock´n Roll e combustível. A melhor maneira de redigir sobre um clássico nacional que até hoje desperta um misto de desejo, medo, inveja e emoção até daqueles que não nasceram na década de ’70. Agora duplique esta sensação...

O ronco é embolado e grave como todo V8 deve ser. Para quem acha que oito cilindros são poucos para causar tamanho descompasso cardíaco, imagine dezesseis cilindros urrando de frente um para o outro como se fossem dois Pit-Bulls em uma rinha prontos para o combate. É simplesmente fascinante! Embalados por esta nostalgia e paixão, que os membros do Clube União V8 de Goiânia se reúnem para bater papo, exporem seus carros, aprenderem e aprenderem um pouco mais sobre os míticos V8´s, sejam eles Ford 302”, Chevrolet 350”, Dodge 318”... toda e qualquer cilindrada é bem vinda, desde que sejam oito cilindros dispostos em “V”.

Dentro do clube encontramos dois dos mais bem conservados Dodges do país. O Dodge ’74 é de propriedade do analista de sistemas Rafly Moreira Cruz de 28 anos. Essa paixão se deu antes mesmo que o rapaz conseguisse alcançar os pedais de um veículo. “Quando nasci, meu pai tinha um Charger R/T ‘73 quase igual ao que tenho hoje (até na cor), então praticamente fui criado vendo um desses na garagem. Haviam outros carros na família (Chevette, Fusca e uma C-10), mas eu gostava mesmo era do Dodge e que, por ironia, era exatamente o que menos saía da garagem, pois a gasolina na época já era bem cara.” – diz Rafly. Em 1984 o pai de Rafly se desfez do Dodge e deixou um espaço aberto no coração do filho que não se conformava com a falta que o V8 fazia. Assim sendo, Rafly prometeu a si que um dia teria um Dodge semelhante àquele que pululava seus sonhos.

Após muita procura por um Dodge em bom estado, que estivesse ao menos em condições de ser restaurado, Rafly encontrou este R/T ’74 que rapidamente fora enviado para a restauração utilizando todos os padrões originais. O veículo foi pintado da cor Amarelo Enxofre Cítrico com detalhes das faixas laterais originais da versão comercializada a mais de 30 anos atrás. “A parte mais complicada da restauração é sem dúvida nenhuma refazer a carroceria e a parte de acabamentos (frisos, borrachas, etc). É extremamente complicado achar bons profissionais que lidam nessa área de funilaria e pintura...” - revela. Todas as etapas da restauração seguem os padrões originais e até mesmo os pistões tem medidas standart. O motor Dodge 318” é alimentado com gasolina através de um carburador DFV-466 original. O comando de válvulas segue graduação de 240°x248° e a taxa de compressão ficou em 8,4:1 deixando o motor com o característico “embolar” dos V8. O desempenho é o esperado de um V8 original: muito torque em baixas rotações, boa velocidade de cruzeiro e um som inconfundível! A forma de utilização deste Dodge é restrita, segundo Rafly: “Uso o carro basicamente nos finais de semana para ir aos encontros do Clube, pequenas passeios com a família e algumas viagens por Brasília, interior de Goiás e Triângulo Mineiro”.

Internamente o veículo ostenta todo o luxo e requinte de um esportivo dos anos ’70. Os grandes e confortáveis bancos em couro da versão R/T fazem charme junto ao volante de grande diâmetro e o painel com revestimento imitando madeira. No painel, o grande conta-giros original é o que mais se destaca e sempre que aponta lá em cima é hora do motorista mover a alavanca de câmbio deslocada para a próxima marcha. “É uma delícia guiar o R/T. Depois dos 80 km/h este motor tem uma pegada inigualável!”

Já Leandro Sabag é o feliz proprietário do Charger R/T Laranja (descrito como Vermelho no documento). Advogado de 39 anos, morador de Goiânia, Leandro é um dos sócios mais descontraídos do Clube União V8. Sempre bem humorado e com diversos “causos” para contar, ele descreve como começou esta paixão incurável pelos motores V8: “Essa paixão começou desde criancinha, vez que, meu pai sempre foi usuário e possuidor dos veí¬culos com essa motorização. Nunca me esqueci das viagens familiares empreendidas a bordo de um V8, principalmente de um Dodge. Eu e meus irmãos, durante as viagens, nos colocávamos debruçados sobre os bancos dianteiros, observando o ponteiro do velocímetro e quando atingia os 200 km/por hora era aquela galhofa, onde todos nós ficávamos orgulhosos de estarmos viajando num carro desses”. – lembra Leandro, saudoso.

Seu R/T recebeu a carinhosa preparação de Sinval Teixeira da empresa Powertech de Goiânia para que toda a potência e força do V8 possam ser aproveitadas em viagens e passeios. Porém o novo “coração” deste clássico não é o original. Leandro abriu mão da motorização original para instalar um motor V8 de um caminhão Dodge. A grande diferença entre os dois modelos é a utilização de correntes duplas nos comandos, propiciando maior taxa de compressão. Essa nova tava é facilmente suportada pelas bielas originais. Para melhorar a resposta em médios e altos giros, comandos de válvulas Crane de graduação 282°x286°, coletor Weiand e os cabeçotes tiveram seus dutos re-trabalhados para melhorar a admissão de ar às câmaras. Para que as explosões nas câmaras de combustão pudessem acompanhar o up-grade, foram providenciadas velas de quatro eletrodos, bobina mais forte e módulo amplificador de faíscas para poderem suportar as altas rotações do novo motor. Alimentando toda a tropa que move o novo motor, um Holley 4011 de 650 cfm de vazão é responsável por gerir a mistura que faz o motor girar a 7.000 rpm. “De todo o conjunto conseguimos extrair nada menos que 340 cavalos de potência do Dodjão, colocando-o no lugar que lhe devido por direito, o de í¬cone dos carros fortes brasileiros”. – declara Leandro. Até mesmo a relação do diferencial foi re-escalonada em vinte e sete por cento para conseguir-se maior velocidade de cruzeiro, passando para 15/39 (2,60:1). Esta nova relação é capaz de levar o Charger a cerca de 270km/h, segundo o proprietário.

O interior do veículo foi restaurado de modo a aliar luxo, modernidade e esportividade. Os bancos dianteiros são do Audi A3 e só entraram em cena pois Leandro temia não conseguir restaurar os bancos originais no padrão original. “Os bancos originais do Charger R/T são de um acabamento complexo e até hoje inigualável por qualquer outro carro nacional”. – revela. No console central foi instalado um conta-giros da SPA com shift-ligth interna e logo ao olhar para o teto, visualiza-se uma tela de DVD que além de exibir filmes para distrair a criançada, responde à câmera instalada na traseira deste Dodge. Todas as modificações elétricas foram feitas de forma auxiliar, sem cortar um fio sequer dos componentes originais do carro para não comprometer a confiabilidade do veículo que atualmente só sai da garagem para eventos, encontros e eventuais passeios.

Toda a lanternagem e recuperação do veículo (exceto preparação) foram feitas no Centro Automotivo Sabag, de propriedade do irmão de Leandro e sua restauração durou cerca de cinco anos. “Somente a lanternagem durou um ano e cheguei a comprar um outro Dodge só para retirar o pára-choque dianteiro e as lanternas traseiras.” – revela. E Leandro continua: “No mais, ao contrário do que a maioria daqueles que restauram um automóvel pensam, que vão tirar o carro da oficina achando que está pronto, esse Dodge passou por um perí¬odo de aperfeiçoamento e testes que na verdade até hoje os são realizados, porquanto as melhoras são também dinâmicas acompanhando e, consequentemente, mantendo a confiabilidade do veículo. Desta forma o veículo não envelhece, mantendo-se somente denominado de veículo antigo e não carro velho”!

Mais do que ter ou manter um clássico, estes dois apaixonados por V8 são verdadeiras figuras! Uma grande amizade unida por laços fortes, tal qual o bloco de um motor em “V”. Assim é a galera do União V8 de Goiânia que a cada dia vem conquistando mais sócios e aficionados por estas verdadeiras obras de arte da engenharia mecânica.
Ficha Técnica

Dodge Amarelo

Modelo: Dodge Charger R/T

Ano:
1974

Cor:
Amarelo

Pneus dianteiros: BF Goodrich
Radial T/A 225/70 R14

Pneus traseiros: BF Goodrich
Radial T/A 225/70 R14

Suspensão: Original

Diferencial: Original Braseixos 3,15

Motor: 318-V8

Combustível: Gasolina

Alimentação: Original - DFV 446

Comando: Original - 240º/248º

Tuchos: Originais Hidráulicos

Pistões: Originais Standart

Taxa. Compressão: Original - 8,4:1

Bomba. Óleo: Orig. - Federal Mogul

Bomba Combustível: Orig. - Federal Mogul

Arrefecimento: Original com ventilador original de 7 pás

Bomba D´água: Orig. – Urba

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Dodge Vermelho:

Modelo: Dodge Charger R/T

Ano: 1973/1974

Cor: Vermelho

Pneus dianteiros: Firestone F570 - 205/70 R14

Pneus Traseiros: Firestone F570 - 225/70 R14

Suspensão: Original, refeita com buchas em Poliuretano

Tuchos: Originais hidráulicos

Pistões: Originais a álcool (flat top) - medida 0.30

Arrefecimento: Radiador original da linha Dodge 1979

Bomba D´água: Original Urba

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Clube União V8 de Goiânia - GO
www.uniãov8.com.br

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Texto: Rafael Souza | Fotos: Rodrigo Lira
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